quinta-feira, 18 de abril de 2019

A Educação nordestina da “Menina do nome diferente”




Na última semana estive envolvida em um projeto em São Luiz do Maranhão para uma conhecida empresa. Tive como público, jovens que estão concluindo sua formação acadêmica e buscam por uma colocação em grandes companhias, como a que estive representando.
Antes da viagem, recebi algumas costumeiras recomendações de diversos colegas quando trabalho no Nordeste do país: “Trata-se de um perfil mais simples, apesar de boa formação” ou “Você perceberá que não apresentam tanta desenvoltura e profundidade quanto os demais jovens de outras regiões”.
Confesso, fui para o Maranhão acreditando em tudo o que haviam me dito e o que eu própria havia construído até então.
Entrei na sala (cheia) e me deparei com um silêncio não muito convencional, que começa a validar as recomendações que havia recebido. Eu, prontamente me utilizei do sorriso aberto e boas táticas para deixar o clima mais confortável. A sala continuava morna e validando a minha “pré-conceituação” daquele público.
Até que dou a palavra a uma jovem de um município localizado a 700 kilometros de São Luiz, já quase no Pará. Cerca de 22 anos, média estatura, cabelos bem negros, presos por uma presilha de plástico e vestida com uma simples e fina camisa branca de renda. Com forte sotaque nordestino, disse seu nome. Um nome que eu nunca havia escutado antes, devia ser uma união entre nome de pai e mãe ou deveria ter algum significado milenar como água, fogo, ou algo parecido.
Não importa. O que importa é que esta menina seria a institucionalização do meu entendimento sobre o Nordeste de nosso país. Estava nas mãos dela confirmar tudo o que eu havia escutado e entendido até hoje sobre os jovens Nordestinos a procura de uma oportunidade em grandes empresas. A “menina do nome diferente” estava pronta para tirar um “bem que me avisaram” de meus lábios. Era ela! Ela seria a responsável por solidificar meu entendimento cultural sobre o mercado de trabalho especialmente no Maranhão.
Mas ela não o fez. Não aproveitou a simplicidade de ser igual, e foi diferente. Uma desenvoltura impressionante, liderança de grupo de uma forma respeitosa e que eu nunca havia visto em nenhuma das grandes empresas que já atuei. Parecia estar em casa, apesar de entregando um importante trabalho para uma grande empresa. Esforçada e dedicada em entregar um ótimo trabalho com simplicidade e consistência, trabalhava sorrindo e feliz por estar diante de uma grande oportunidade. E assim, outros jovens começaram a aparecer, como seus seguidores, igualmente impressionados pela “menina do nome diferente”. Ela transformou a “sala nordestina”, que terminou o dia com estrelas brilhantes, tão fantásticas como ela.
Vergonha. Foi o que senti de mim e de todos que haviam me dito sobre o “Padrão Nordestino”. Voltei para casa pensando se teria sido sorte minha. Mas preferi me enganar, assim como todos os conselhos que recebi. Preferi chegar em São Paulo e contar para todos que São Luiz do Maranhão deve ser vista de perto e seus talentos devem ser ampliados para o mundo. Preferi não dizer a ninguém que existe uma menina, de nome diferente, que está mudando o mundo.



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